“Se você estiver em Bangkok na lua cheia, não deixe de ir a Haad Rim”. O conselho do Negão Jimmy me voltou imediatamente à memória, quando o disco prateado da lua emergiu dentre os edifícios da Sukunvit Road, na capital da Tailândia. Haad Rim é uma praia da ilha de Koh Phangan (o que é uma redundância, porque Koh significa ilha em tailandês) onde segundo o negão rolava uma festa mucholoca, com muito neón e – última novidade! – música eletrônica porrada.
Não pensei duas vezes. Botei a Rô numas, pegamos um ônibus (noite inteira entregues a um rasta maluco, que pilotava a milhões ouvindo raggae tailandês) até Surat Thani, e de lá um barco para Koh Phangan, via Ko Samui. O barco tinha dois preços: “air conditioned” pagava mais e incluía uma poltrona na cabine repleta de olho puxado e fumaça de cigarro, enquanto o convés oferecia cara pro vento, paisagens deslumbrantes e a companhia de uns australianos gente fina, um vendedor de côco e – nem tudo é perfeito - uns pentelhinhos armados de “books” das pousadas de Phangan, prestes a atacar. Como além de tudo o preço era bem mais baixo, é lógico que escolhemos o convés, apesar do sol de 40 graus.
Naquela época, Phangan ainda era um lugar agreste, os nativos recém estavam descobrindo a controversa “benção” do turismo, as estradas eram de terra e os corações abertos. A praia de Haad Rim ficava do outro lado da ilha, e preferimos alugar uma moto a embarcar na jardineira montada sobre um Toyota 4X4 cheio de franjinhas, com outro daqueles thais cabeludos na direção. Depois de uns 20 km de altos visuais e alguma tensão (a estrada era péssima e o piloto pouco confiável) chegamos ao paraíso. Haad Rim era uma vila de apenas três ruas de terra onde não passavam carros, envolvendo uma baía fechada de um quilometro de boca, de mar azul e morno, cercado de corais. Ainda faltavam três dias para a festa, e por isso conseguimos um bungalow na cara do gol, a 20 metros do mar, por rasos oito dólares ao dia, café da manhã incluído. Foram dias de sonho, passeios de moto por praias desertas, infindáveis mergulhos, camarão e Singha Beer.
Um dia antes da lua cheia a magrinhagem começou a chegar. A fauna era variada. A maioria backpackers europeus – suecos branquelos, franceses metidos e italianas gritonas – todos naquele estilinho chinelo de pneu, tiara no cabelo e mochila nas costas. Logo espoucaram os primeiros tum-tum-tum da música eletrônica e a noite anterior à festa já foi um murundú, com a galera fervilhando entre os barzinhos da praia e festas rolando nas casas. Mas nada se compara à Full Moon Party! A viagem começa ao pôr-do-sol, quando os bares de frente para a praia colocam mesas baixas e esteiras na areia, com pequenos castiçais abrigando velas que dão um colorido mágico ao ambiente. Mais atrás um correr de carrinhos de comidinhas locais, birita de tudo quanto é tipo, artesanato de magrão. E para completar enormes caixas de som bombardeando a beira da praia com megatons de som eletrônico pesado. Em pouco tempo virou loucurada. Tiras de neón laranja e verde-limão, que as pessoas usavam como tiara, enrolavam nos braços ou no pulso, criavam um efeito psicodélico na multidão que se embolava na areia, ao ritmo do tum-tum-tum. Como estava “avec” procurei me comportar, e após muita birita e algumas bailadas sem compromisso voltei prá cabana, os ouvidos estourando com aquela música esquisita. No dia seguinte amanheci com uma baita dor-de cabeça, abri a porta decidido a dar um mergulho para clarear as idéias, quando dei com um casal – um gringo branquelo como uma beluga e uma moreninha até interessante – dormindo pelados na areia, a água a lhes lamber os pés. Fechei a porta e voltei rapidinho prá cama, prá dar tempo do mundo voltar ao normal.
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
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